quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O SUTIL PODER DO VENTRE

A história da dança do ventre é tão antiga quanto a história do homem, ou melhor, da mulher. É a primeira dança feminina de que se tem registro. Enquanto as outras danças eram executadas pelos homens e claramente ligadas à sobrevivência (chuva, caça, etc), desenhos em cavernas de mulheres dançando, mostram-nas com ventre em evidência. Os movimentos de contração, ondulação e vibração foram desenvolvidos pelas mulheres e para as mulheres em função de aliviar dores menstruais e preparar os músculos para a sustentação da gestação e o trabalho de parto, também como um culto à Grande Deusa (natureza) em prol da fertilidade - do ventre e da terra.
Há milhares de anos, mulheres africanas dançavam em torno de uma fogueira, movimentando mãos e quadris de modo a atrair o fogo. Acreditavam que o gestual contribuiria para a sua fecundidade. Aí estaria a origem dos principais movimentos do corpo na dança do ventre, que vem se tornando para muitas — mais do que uma representação artística — espécie de ritual religioso de devoção ao poder feminino. É uma dança que mexe tanto com a essência da mulher que muitas das praticantes acabam se tornando até seguidoras de religiões pagãs que resgatam o papel feminino sagrado na sociedade.
Ao longo do tempo, pelo processo de mistura entre culturas causado pelas constantes guerras, invasões ou simplesmente pelas visitas freqüentes de povos nômades, a arte da dança oriental foi divulgada e assimilada por todo o oriente antigo. Em 1798, Napoleão Bonaparte teve seu primeiro contato com a dança oriental em sua primeira expedição científica ao Egito, através da recepção fraterna e festiva de Gawazys, onde dançarinas profissionais dos povos Tiziganes se apresentaram para ele. Bonaparte, impressionado com os curiosos movimentos abdominais das dançarinas referiu-se pela primeira vez à dança oriental, como “danse du ventre” ou seja, dança do abdômen, “Dança do Ventre” a forma como a conhecemos até hoje.

Mas há circunstâncias em que a dança — presente na cultura árabe e, com variações, na judaica, na egípcia e na grega — ainda é tida como vulgar. Entre muçulmanos, ao contrário do que se pensa, não costuma ser bem-vista a exposição da figura das chamadas moças de família. Mas, os gestos sensuais da dança do ventre, com suas vestes repletas de cor e brilho, representam o mito feminino: O objetivo não é seduzir no sentido da conquista sexual ou desafiar outras mulheres. Queremos é despertar neles e nelas o reconhecimento do devido valor da feminilidade.