quinta-feira, 22 de maio de 2008

MATA HARI: mitos e verdades sobre a femme fatale

Femme Fatale, palavra francesa usada para o esteriótipo de mulherer misteriosa, atraente, perigosa, interesseira e muito sedutora.

O termo é muito abordado na literatura e no cinema. A mulher fatal geralmente seduz e engana o herói e outros homens para obter algo que eles não dariam livremente.
Apesar de ser tipicamente uma vilã, a femme fatale exerce tal fascínio sobre o público que normalmente não termina mal como os demais vilões. Resumindo: ela quase sempre se dá bem.

Seu poder é tamanho que vive constantemente cruzando a linha entre o bem e o mal, agindo inescrupulosamente a despeito de normas sociais e quaisquer compromissos abertos que tenha com o herói ou qualquer outra pessoa.

Ela inexoravelmente nega a confirmação de seu afeto à seu parceiro, torturando-o assim e criando uma obsessão em relação à ela, onde o homem torna-se incapaz de tomar decisões racionais ou sequer gerenciar sua própria vida.

Para mim, ela é a versão feminina do homem cafageste e sedutor. Seu glamour está no fato de ser a mulher a manipuladora de toda a situação. Célebres personagens como a Catherine Trammel de Instinto Selvagem representam bem esse fascínio capaz de viciar um homem, ou vários.

Mas hoje é sobre uma femme fatale da vida real que gostaria de falar. O nome dela é "Marguerite Gertrude Zelle ", mas você a conhece como MATA HARI. Ela é holandesa, nascida no século XIX, rica e com status social. Ela casou-se, como qualquer mulher de sua época. Seu marido era um também abastado capitão do exército de seu País.

Mas o grande mito por trás das "femme fatales" (assim como suas versões masculinas), na minha opinião, tem sempre início da mesma forma.


COMO FORMAR UMA FÊMEA FATAL:

A verdade é que a vida dessa mulher não foi nada fácil. Marguerite tornou-se órfã de mãe muito cedo. Seu marido revelou-se, já logo após o casamento, um homem leviano, imoral, que a tratava com violência. Ela foi inúmeras vezes traída e espancada.

Mata Hari, que ainda era Marguerite, chegou a relatar o horror em que vivía em cartas à seu pai. O senhor Zelle chegou a apresentar queixa contra o genro, mas as coisas só pioraram: depois das brutalidades, começaram as ameaças com armas.




A conduta social de seu marido chegaria a tal ponto que obrigarou seus superiores a intervir, passando o oficial para os quadros da reserva.


Tá achando ela uma mulher sofrida e judiada pela vida? Seu drama ainda mal começou.

Marguerite teve com este "marido" um casal de filhos, Norman e Jeanne-Louise. Esperava que a maternidade talvéz aproximasse o casal e trouxesse um pouco de harmonia para sua vida.

No entanto, o menino foi assassinado com veneno por uma serviçal (motivo desconhecido), enquanto o casal vivia em Java, ná época colônia holandesa.

Após essa trajédia, o convívio ficou ainda mais insustentável. Em um dia de agosto de 1902, Mac Leod , o marido, saiu, levando a filha doente, não voltando mais para casa. Tempos depois "devolveu" a filha e a abandonou.


O FUNDO DO POÇO

Mulher, abandonada bem no comecinho do século XX, praticamente sem recursos (afinal mulheres da sociedade não trabalhavam nesta época), Marguerite vendeu alguns objetos e refugiou-se na casa da tia, tomando coragem para iniciar um pedido de divórcio.

Mac Leod replicou o pedido de divórcio com um aviso pela imprensa de que não era mais responsável pelas dívidas da mulher (como se até então tivesse sido, né). Sua tia então, com vergonha da sobrinha "desgraçada" a expulsa de casa. Três florins era toda a fortuna que Marguerite possuía. Ela ainda tenta voltar à casa de seu pai, em Amsterdã, mas em algum momento essa mulher decide não se conformar com toda a desgraça de sua vida.

Aqui está o segundo elemento que compõe uma fêmea fatal, segundo minha percepção: o primeiro, a vida sofrida. O segundo, este ímpeto de reverter o sofrimento e a desgraça, não se conformando com o papel de vítima. Pois uma coisa que eles não conseguem ser é vítima.

O ser humano magoado, desrespeitado e mal tratado pelas pessoas e pela vida decide então, por vingança, ou por auto-defesa (ou até mesmo por egocentrismo) se lançar ao mundo atrás de seus objetivos e ambições -que nestes casos geralmente são grandes. Não se importam em atropelar quem ou o que esteja em seu caminho e usam todas as armas que tiverem a seu alcance. Desenvolvem uma barreira em relação à outras pessoas, para que estas não possam tornar a magoá-las.

Misture bem tudo isso para entender como a história continua.



A DANÇA E A SEDUÇÃO COMO FORMA DE RENASCIMENTO

Marguerite rejeitou sua origem européia, gostava de se passar por nativa das Índias Holandesas, filha de um rajá e de mãe indiana. A estranha beleza daquela holandesa com traços indianos eram fascinantes. Em seu rosto, chamavam a atenção especialmente os dois olhos de fogo, dotados um estranho poder de atração, que ela soube utilizar para atingir todos os seus objetivos.
Marguerite logo se interessou por Paris, para onde viajaria em 1903.
A vida que levou em seus primeiros tempos de Java, onde se debruçara sobre a literatura indiana e a leitura de textos budistas, além de seu gosto natural pela dança, fizeram com que se voltasse para o teatro. Seu físico, aliás, a ajudou muito. Um romancista a descreveu assim: "Grande, esbelta, ela exibe sobre seu maravilhoso pescoço, flexível e cor de âmbar, uma face fascinante, perfeitamente ovalada, cuja expressão sibilina e tentadora impressiona. A boca, vigorosamente desenhada, traça uma linha móvel, desdenhosa, muito carnuda, sob um nariz reto e fino cujas asas palpitam sobre duas covinhas sombreadas nos limites de seus lábios. Os magníficos olhos, ligeiramente puxados, aveludados e melancólicos, são envoltos por longos cílios encurvados e têm qualquer coisa de hindu. Seu olhar é enigmático: perde-se no vazio. Os cabelos, muito pretos, repartidos ao meio, montam em sua face um quadro de impenetráveis ondulações".
Vivia num hotel privado em Neuilly, oferecido por um rico industrial que abandonara a mulher e os filhos para cobri-la de presentes, onde ela dava festas suntuosas. Este rico industrial se arruinou por ela. Emitiu cheques sem fundos e foi preso.

O NASCIMENTO DE "MATA HARI"

Em uma noite de outubro de 1905, toda a sociedade de orientais que morava em Paris, todos aqueles que tinham relações no mundo das letras e das artes, os críticos de imprensa mais célebres, receberam um convite para uma soirée no museu Guimet para lá ver, diziam os cartões, uma dançarina indiana, de nome Mata Hari, executar danças sagradas.
O sucesso foi enorme. Mata Hari estava lançada. Ela viajou pela Europa. Os music-halls de Roma e de Berlim, a acolheram.
Na Alemanha, Mata Hari cultivou relações com o príncipe herdeiro, o duque de Brunswick, o chefe de polícia de Berlim e Van der Linden, presidente do Conselho de Holanda. Os teatros de Paris disputavam a dançarina, oferecendo-lhe cachês astronômicos.